Os jardins zoológicos ainda são alvo de diversas controvérsias. Algumas pessoas defendem que os zoos proporcionam condições excelentes e sã...
Os jardins zoológicos ainda são alvo de diversas controvérsias. Algumas pessoas defendem que os zoos proporcionam condições excelentes e são importantíssimos para a conservação de algumas espécies. Outras afirmam que manter animais em cativeiro para demonstração ao publico não pode ser aceitável, pois está a priva-los de uma vida selvagem.
Para esclarecer algumas questões, entrevistamos Tiago Carrilho, Biólogo do Centro Pedagógico do Jardim Zoológico de Lisboa.
Na sua opinião, os funcionários do Jardim Zoológico de Lisboa, possuem todas condições para assegurar um bom tratamento aos animais?
Na minha opinião os funcionários do Jardim Zoológico (JZ) têm todas as condições para assegurar o melhor tratamento possível para os animais que temos no Jardim Zoológico. Estas condições vêm das experiências dos próprios tratadores, do trabalho integrado de todas as equipas do Jardim Zoológico e também da partilha de informação das instituições que compõem a EAZA.
O facto de estarem em cativeiro, não inibe o comportamento selvagem dos animais?
O facto dos nossos animais estarem ao cuidado humano não inibe os seus comportamentos naturais porque surgiu, com o conceito de Jardim Zoológico moderno, uma disciplina chamada Enriquecimento Ambiental que é por definição o estimulo dos comportamentos naturais referentes a cada espécie. Este enriquecimento é feito com o intuito de manter os nossos indivíduos saudáveis e com os comportamentos correspondentes à sua espécie. O enriquecimento ambiental tem 5 dimensões: social, alimentar, ocupacional, físico e sensorial.
...as instalações de hoje em dia, são pensadas para proporcionar a liberdade de escolha aos nossos animais que podem escolher entre o exterior, interior e entre estar à vista do público ou não.
A presença humana afeta os animais de alguma forma? Se sim, acha aceitável a presença desses animais nos jardins zoológicos.
Tendo em conta que o conceito de Jardim Zoológico moderno não prevê o contacto dos animais com o Homem, para os animais que aqui vivem somos apenas mais uma espécie que circula perto do seu território. Além disso as instalações de hoje em dia, são pensadas para proporcionar a liberdade de escolha aos nossos animais que podem escolher entre o exterior, interior e entre estar a vista do público ou não. Tendo isto por base, acho perfeitamente aceitável a presença de visitantes no Jardim Zoológico porque apesar de a influência destes nos animais está minimizada, mas a presença que os animais têm nos visitantes do ponto de vista educacional é enorme. A educação que ocorre no Jardim Zoológico é muito eficaz devido à presença dos animais, basta pensarmos que muitos de nós se lembram da primeira vez que viram um elefante ao vivo mas não se lembram da primeira vez que o viram na televisão.
Um dos objetivos da educação do JZ é de facto criar relações emocionais positivas entre os nossos visitantes e a natureza porque desta forma será mais fácil chegar à mudança de comportamentos pela conservação da natureza.
Sendo o Lince Ibérico uma espécie em grave perigo de extinção e um animal emblemático no nosso país podia descrever o processo pelo qual é realizada a sua conservação.
Portugal é um parceiro das ações de reprodução em cativeiro desenvolvidas em Espanha, e tem assento no Comité de Cria em Cativeiro do Lince Ibérico (CCCLI).
Cabe ao CCCLI impulsionar o Programa Ibérico de conservação ex- situ para o lince-ibérico, garantindo um programa unificado.
O Gamma e Azahar chegaram ao Jardim Zoológico no mesmo dia, a 2 de dezembro de 2014. Para muitos, estes dois exemplares- embaixadores serão o primeiro contacto com esta espécie. E foi precisamente essa a função que o Jardim Zoológico assumiu ao recebê-los: sensibilizar a população portuguesa para a causa do Lince-ibérico, oferecer aos visitantes a possibilidade de conhecer e criar laços emocionais com a espécie. Apenas voltará a existir entre nós, se for aceite e respeitada.
Pretende-se que esta proximidade contribua para reduzir alguns comportamentos que põem a espécie em risco, como a caça ilegal, a alteração de práticas de controlo de outras espécies (que poderão causar danos colaterais, como envenenamentos, por exemplo) e a destruição do habitat, e que promova a aceitação destes animais por parte das populações, uma vez que o plano de reintrodução do Lince- ibérico na Natureza já começou a ser posto em prática.
O Jardim Zoológico de Lisboa está, atualmente, inserido em algum programa de conservação de alguma espécie? Se sim, quais?
Sim!
Existem nos Jardins Zoológicos que fazem parte da EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) programas específicos para reprodução de espécies ameaçadas chamados EEP’s. Para além destes programas existem também os studbooks , europeus e internacionais, que são registos biológicos e administrativos das espécies e é tendo por base este registo que se criam os programas para a gestão das espécies. Toda esta gestão é feita para manter a variabilidade genética, evitar consanguinidade e garantir a gestão sustentada das populações presentes em Zoos. Hoje em dia a maior parte dos animais que estão presentes nos JZ ou já nasceram ao cuidado humano ou são trocados dentro dos zoos ao abrigo destes programas.
Neste momento o Jardim Zoológico participa em mais de 64 EEP’s, 44 stubooks europeus e 48 internacionais. Podes ver mais informação em :
Para além destes programas que são considerados, conservação ex-situ (fora do habitat), o JZ também apoia e/ou coordena diversos projetos de conservação in-situ (no habitat). Por exemplo apoiamos financeiramente um projeto com micos-leões-dourados que se dedica a reintrodução desta espécie no habitat natural, coordenamos um projeto de investigação e reintrodução de saguim-cinzento na Colômbia e participamos também num projecto em Madagáscar na Floresta de Farankaraina com Lémures, entre muitos outros.
Quando o animal é libertado é acompanhado todo o processo mesmo depois de ter sido libertado, para garantir o sucesso da sua sobrevivência e também o sucesso reprodutivo.
Alguma vez libertaram um animal na natureza? Se sim, explique como é realizado todo esse processo.
Sim, já reintroduzimos indivíduos na natureza. Todo o processo de reintrodução começa com estudos nos possíveis locais de reintrodução para garantir a viabilidade da mesma. Ao mesmo tempo que estes estudos decorrem os animais estão ao cuidado humano com um programa de enriquecimento ambiental adequado para manterem os seus comportamentos naturais que contribuem para o seu bem-estar e facilitarão a reintrodução no futuro. Quando o animal é libertado é acompanhado todo o processo mesmo depois de ter sido libertado para garantir o sucesso da sua sobrevivência mas também o sucesso reprodutivo. Quando se reintroduz um animal o principal objectivo é fazer co que a zona de reintrodução volte a ter animais da espécie em questão e como tal só se pode considerar bem sucedida quando existe reprodução.
Alguma vez o Jardim Zoológico de Lisboa trabalhou ativamente na continuidade de uma extinta na natureza?
Sim! Em 2012 o JZ reintroduziu um casal de leopardos-da-pérsia que foram seguidos por um técnico do Jardim Zoolóigco. Hoje em dia coordenamos o EEP desta espécie, fazendo assim toda a gestão desta espécie ao cuidado humano na Europa em instituições da EAZA.
Os recintos dos animais no jardim zoológico de Lisboa substituem de alguma forma, os habitats naturais desses mesmos animais em estado selvagem?
As instalações dos animais no Jardim Zoológico mais que mimetizar o habitat natural, devem permitir que os nossos animais possam desenvolver os seus comportamentos naturais e possam ter liberdades de escolha na sua vivência diária. O bem-estar animal está relacionado com o comportamento e liberdade de escolha porque mesmo estando numa instalação igual ao habitat se não houver oportunidades e estímulo para o desenvolvimento dos comportamentos naturais e selvagens o bem-estar poderia ficar comprometido.
Quando falamos em termos de reintrodução o comportamento também é um dos principais factores de sucesso, daí a importância da presença do enriquecimento ambiental.
Quando falamos em termos de reintrodução o comportamento também é um dos principais factores de sucesso, daí a importância da presença do enriquecimento ambiental.
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